O Pressuposto de Inocência Guarda um Pretexto.
Em um "cálculo moral", se me permitem usar esse termo, o bom cidadão, em uma perspectiva muito objetiva, é tão criminoso quanto aquele que afirma o crime diretamente - tão como é criminoso, por razões semelhantes, quem media a relação entre estes dois, isto é, o Estado (este último é, portanto, o substrato deste cenário). A diferença está mais em nível psicológico ou de comportamento: um é dissimulado e o outro, o que se afirma como criminoso sem delongas, é apenas sincero. Porém, uma vez mais, os dois são criminosos em mesmo nível. Me sinto agora forçado a parafrasear Pondé - o que na verdade Nietzsche já havia dito antes: "A hipocrisia é a essência da vida moral". Grosso modo, uma vez que a sinceridade, seja de quem for, se torna imperativa, a postura de boa pessoa vai buraco abaixo. E mais: em uma perspectiva política, a fronteira que divide o inocente do criminoso é extremamente frágil, estando, em mesma dose de crime, diversos atos aparentemente inofensivo