Black Mirror não é s/ tecnologia, nem s/ o que há de pior em nós: é sobre filosofia.
Nas últimas semanas me deparei com dois textos: um que atribuía a temática "tecnologia" e outro que atribuía a temática "sobre o que há de pior em nós mesmos" acerca do seriado Black Mirror. Considero essas atribuições uma negligência grosseira, uma vez que desconhecem o que filósofos fazem, pelo menos, desde Descartes - ou até antes. Trata-se do que chamamos em filosofia de "experimentos de pensamento" (ou thought-experiment , como foi cunhado pelos filósofos de língua inglesa). Os experimentos de pensamento são uma poderosa ferramenta epistemológica presente em muitos argumentos filosóficos, sobretudo aqueles de teor metafísico . Grosso modo, são casos imaginários conjecturados a fim de colocarem em teste as nossas intuições. Por exemplo, no caso de Locke, é muito conhecido o experimento de pensamento de trocas de mentes do Príncipe e o Sapateiro , onde a intenção é forçar nossas intuições acerca dos critérios metafísicos de identidade pessoal.