A Consciência Moral Pitagórica


A Consciência Moral Pitagórica


A tradição pitagórica, iniciada no século VI a.C. revelou uma das figuras mais enigmáticas da história. Envolto por interpretações místicas e uma personalidade mergulhada em lendas, Pitágoras rendeu importantes contribuições para a filosofia, a ciência - sobretudo a matemática - e a religião. Muito do que Pitágoras ensinou pode-se considerar absolutamente original vindo a influenciar diversas correntes filosóficas da Grécia, como, por exemplo, a platônica. Os neoplatônicos deram enorme atenção à tradição: Jâmblico e Porfírio escreveram o que temos como principal fonte de estudo do pitagorismo – mesmo com suas notórias imprecisões da figura histórica de Pitágoras. As Vidas de Pitágoras escritas pelos neoplatônicos trazem um amplo estudo da comunidade pitagórica e de seus ensinamentos, tal como seus ensinamentos morais que iremos tentar esboçá-los de uma maneira mais ou menos sistemática buscando identificar uma consciência moral da tradição, ou melhor, da comunidade pitagórica.


A comunidade pitagórica - que muitas vezes é referida como uma seita - se trata de uma organização social de rígidas normas de conduta. Assim que iniciado, o membro tem de, antes de tudo, passar por um longo período de educação moral que o fará em profundo silêncio. Pitágoras, a título de curiosidade, conseguia educar moralmente até os animais: em um dado momento de sua vida este fez um boi abster-se de comer feijões e um urso jurar nunca ferir criaturas vivas (VP, Jâmblico, 60-61). Existem inúmeras histórias fantásticas que cercam a figura lendária de Pitágoras. Muitas destas histórias, veremos, têm, basicamente, uma função educativa. O caso de não comer feijões, por exemplo, é justificado pela tradição pitagórica da semelhança deste alimento com os órgãos genitais. Isso nos faz sentido, pois na comunidade o prazer sexual era, em certo sentido, restrito e os membros tinham de evitá-los em função de buscar uma ascese pitagórica.

A força da instrução moral na comunidade se expandia para fora da seita. Os pitagóricos estavam freqüentemente envolvidos em questões políticas de suas cidades. Seus ensinamentos eram passados, inclusive, para crianças e mulheres - estas podiam, inclusive, participar da comunidade. Onde quer que passassem espalhavam sabedoria e atraiam até homens do poder que o procuravam para educar seus filhos. O próprio Pitágoras, quando ainda jovem, segundo Jâmblico, era uma figura carismática que transparecia uma aparência divina e conservava uma conduta característica: “Cuando murió su padre, creció em gran seriedad y prudencia, y siendo todavia muy joven merecia ya de los de mayor edad la consideracíon y el respeto, y cuando se le veía hablando, a todos atraía, y a todo aquel que le dirigia sua mirada le parecia admirable, de tal modo que por la mayoria se aseguraba com razón que era hijo de um dios.” (VP, Jâmblico, 10). Jamais era tomado pela ira e inveja. Preservava uma notória seriedade e boa índole: “[...] por la serenidad de sus palabras y actos, por una inimitable calma, sin verse jamás poseído por la cólera, la risa, la envidia, la pendência ni por ninguna outra pertubacíon o arrebato [...]” (VP, Jâmblico, 10).

A conduta moral que Pitágoras ensinava tinha, freqüentemente, como plano de fundo, o bem-estar e sobrevivência da comunidade pitagórica e um arcabouço para os ensinamentos gerais daqueles que não pertenciam à tradição – apesar de também ter, muitas vezes, uma justificativa divina ou mística. Contudo, existiam ensinamentos que eram reservados somente aos membros da comunidade que faziam voto de silêncio: “o conteúdo do que ouviam era protegido por um voto de silêncio: os ensinamentos de Pitágoras não deviam ser revelados a não-membros.” (Kahn, 2007, 25). Portanto, é possível imaginar que existia um ensinamento moral interno na comunidade reservado ao convívio entre os membros. Além disso, o ritual de iniciação à comunidade era espantosamente minucioso: “Antes les imponía uma prueba y um juicio crítico, indagando, en primer lugar, cómo se relacionaban com sus padres y demás familiares y, en segundo lugar, observando si su risa era destemplada, si guardaban silencio y si sua charla era improcedente, e incluso la índole de sus pasiones, los amigos com que se trataban y su convivencia com ellos y em qué ocupaban especialmente el dia y qué era lo que les causaba alegría y tristeza.” (VP, Jâmblico, 71). Em um trecho desta passagem Jâmblico nos incita em perguntar o quanto era valorizada a família na comunidade. O celibato não era absoluto, a relação sexual era aceita - desde que dentro da relação conjugal do homem com sua mulher - e incentivava-se a reprodução. O respeito pela mulher era curiosamente valorizado – mesmo que em um sentido que acaba por menosprezá-la (como poderá ser visto na próxima citação) – para uma consolidação saudável da família e, também, como dito antes, tudo isto terá a função de assegurar o bem-estar da comunidade e sua perpetuação mesmo tendo em grande parte uma justificativa divina: “as pessoas deviam ter filhos, para deixar atrás de si alguém para adorar os deuses. [...] Não deviam expulsar (ou rejeitar? diokein) a esposa, pois ela é uma suplicante. A posição protegida e até mesmo igualitária das mulheres e a ênfase no sexo estritamente conjugal e na geração de filhos parecem refletir uma política familiar destinada a melhorar as perspectivas de sobrevivência física da comunidade.” (Kahn, 2007, 26). Esta afirmação sobre as mulheres é espantosa para uma época onde a mulher sempre era colocada em segundo plano e agora passa a pertencer e atuar – como qualquer outro membro do sexo masculino – em uma comunidade de importância política, científica e filosófica. Kahn nos mostra, pelo estudo da Vida Pitagórica de Porfírio, que mesmo a mulher e filha de Pitágoras participavam da comunidade: “Há indícios independentes do papel incomum das mulheres como participantes ativas na comunidade pitagórica: a esposa e filha de Pitágoras eram renomadas pela sabedoria.” (Kahn, 2007, 24).

Como já sabemos, a iniciação de novos membros era subordinada a rígidas condições. Não somente era examinado sua conduta ética e moral, mas também era feito um atencioso exame fisionômico para prever espiritualmente suas disposições para o aprendizado da tradição: “examinaba, además, su figura, su andar, y todo el movimiento de su cuerpo, y llevaba a cabo um examen fisiognómico, por médio de sus rasgos naturales, ya que consideraba que eran pruebas que ponían de manifiesto el carácter oculto de su alma.” (VP, Jâmblico, 71). A predisposição moral era, evidentemente, considerada no exame. Aqueles que não transpareciam uma boa alma eram tidos como incapazes de uma conduta moral pitagórica, além de, claro, incapazes do aprendizado no âmbito dos saberes da comunidade.

A tradição, ao que parece até agora, escolhiam apenas os melhores – segundo a perspectiva pitagórica - para a sua comunidade. Isto nos faz concluir, ainda que muito vagamente, que o aprendizado moral que eles passavam era, para aquela época, algo de difícil adaptação e prática e que era estranho a cultura contemporânea da comunidade. A própria figura do pitagórico chegou a ser tema das comédias gregas. Muitas vezes, em suas descrições, nos parecem hippies: usavam mantos surrados, andavam descalços, tinham cabelos compridos e barbas grandes. (Kahn, 2007, 73). Estes pitagóricos “contraculturais”, vegetarianos e pálidos eram, provavelmente, resultados dos exercícios de ascese que tinham como objetivo a preparação da alma para vidas posteriores. A negação dos prazeres do mundo físico era tida como princípio para que a dedicação ao estudo e ensinamentos morais prevalecesse. Portanto, o estilo de vida pitagórico estará sempre em acordo com o engrandecimento da alma e a acumulação dos conhecimentos da tradição.

O vegetarianismo pitagórico tinha, quase sempre, uma relação direta com a metempsicose. A idéia de que todos os seres vivos têm um parentesco e que estão em eterno ciclo pelos corpos da terra justifica, em uma perspectiva, o vegetarianismo da tradição: “[...] Pitágoras (segundo Socião) recorreu à princípios mais gerais, inclusive o parentesco de todas as coisas vivas: nenhuma alma perece, apenas desaparece até ser infundida em outro corpo. Ao matarmos animais, corremos o risco de assassinato e parricídio.”(Kahn, 2007, 188). Ora, nossos falecidos amigos e parentes poderiam, então, estar no corpo de um animal que ocasionalmente se usaria como alimento. Esta idéia, inclusive, fora praticada de modo espantoso pelo próprio Pitágoras: “Temos uma citação quase contemporânea de Xenófanes (fr.7) na qual Pitágoras é ridicularizado por dizer: ‘Pare de bater naquele cão! Pelos seus lamentos reconheço o espírito (psyche) de um amigo’”. (Kahn, 2007, 28). Entretanto, nem sempre o vegetarianismo pitagórico será justificado pela metempsicose. Pitagóricos posteriores, dentre eles os neoplatônicos, irão buscar uma justificativa diferente. É sabido que os pitagóricos buscavam um estilo de vida ascético onde o enfraquecimento dos corpos proporcionava uma vida voltada prioritariamente para o espiritual. Isto, vale a pena lembrar, é praticado e estudado pelos platônicos: nos pitagóricos já existiam algo como a divisão entre o mundo sensível e o mundo inteligível sistematizado por Platão. Apolônio, por exemplo, irá justificar o vegetarianismo no estilo de vida ascético: “Para Apolônio, por outro lado, a dieta vegetariana está menos ligada diretamente ao respeito pela vida animal. A abstenção de carne faz parte um estilo de vida ascético (que inclui a abstinência de vinho e sexo) que se destina primariamente a garantir o acesso ao mundo espiritual e o discernimento do futuro.” (Kahn, 2007, 186); e é nos neopitagóricos que será possível encontrar um forte paralelo moral entre os pitagóricos e platônicos: “[...] para Apolônio, a abstinência de carne é apenas um componente de um modo de vida ascético que busca escapar do nível corporal para um nível espiritual, um nível no qual a percepção realçada (inclusive a segunda visão) torna-se disponível, e somos capacitados a nos aproximar dos poderes divinos mais elevados. Nessa visão neopitagórica podemos reconhecer certa leitura do Fédon segundo a qual toda coisa sensível e corpórea é considerada uma poluição, de modo que a busca da excelência moral vem a ser identificada com a prática da purificação. E, portanto, também para os neoplatônicos, a abstinência de carne faz parte de uma askesis geral de purificação, uma disciplina que busca liberar a alma e os seus princípios mais elevados, o logos e o nous, dos grilhões do corpo.” (Kahn, 2007, 189). Podemos entender, portanto, que tanto entre os neopitagóricos e os primeiros pitagóricos a filosofia como modo de vida já era presente seja justificada por um lado – ascese – seja por outro - transmigração. Além disso, os exercícios espirituais para o desenvolvimento moral faziam parte do cotidiano da comunidade e era ensinado como parte fundamental da doutrina.

Os membros da comunidade eram chamados de homakooi, “aqueles que se juntam para ouvir”. O que eles ouviam era um akousma, uma “audição”. Como se sabe, o iniciante era submetido a rígido exame e deveria permanecer em silêncio. Esta é uma característica dos pitagóricos: a modestidade e o silêncio. Aqueles que escutavam eram chamados de acusmáticos que se refere a um período iniciático onde os ensinamentos – sobretudo morais – eram passados pelo mestre sem que seus discípulos o vissem (Kahn, 2007, 25). Somente após esse período os acusmáticos se tornavam, então, “esotéricos”. Neste grau era permitido ver o mestre e passavam a ser considerados verdadeiros discípulos de Pitágoras. Ainda como acusmáticos, deviam cumprir uma longa lista de tarefas e tinham, também, uma lista de proibições que Aristóteles conseguiu coletar: não comer feijões; não pegar migalhas que caiam da mesa; não comer galos brancos; não comer peixes sagrados; não partir o pão, pois o pão une os amigos (e não se deve separar o que está unido); colocar o sal na mesa para lembrar da justiça. Kahn adiciona também mais à frente: “A maioria desses ditos e proibições parecem ter servido como práticas e senhas para assinalar a qualidade de membro da comunidade pitagórica, para confirmar a percepção de solidariedade grupal pela distinção de membros e não-membros e talvez também para revelar o grau de iniciação” (Kahn, 2007, 26-27). Este modo de vida, é possível imaginar, serviu como inspiração para futuras escolas filosóficas. Quando não se apropriavam por completo do modo de vida faziam algumas alterações para melhor concordância com a doutrina. Os neoplatônicos e os cínicos são ótimos exemplos, assim como a conduta cotidiana da Academia.

Sobre o bem e o mau, os pitagóricos parecem terem tido uma certeza: os homens são maus. Em conseqüência desta crença os pitagóricos mantiveram uma enorme preocupação com a educação dos homens. Consideravam que o homem sem uma educação moral e um poder para regê-lo deste só poderia se esperar o pior. Por conta disto, valorizavam e atuavam por um governo atento pela ordem e honestidade: “Em general, decían los pitagóricos, jamás se debía permitir que el hombre hiciera lo que quisiera, sino que siempre debía existir uns jerarquia y um gobierno legal y honesto, al que cada ciudadano debe obedecer, porque el ser vivo consentido y descuidado se inclina a la maldad y a la perversíon.” (VP, Jâmblico, 203). Esta passagem justifica a rigidez dos exames iniciáticos e dos exercícios morais que os pitagóricos tinham de se submeter.

Dentre tudo o que sabemos sobre a consciência moral pitagórica uma é com toda a certeza a mais admirável. A amizade pitagórica, que a comunidade preservava com grande devoção, é um brilhante exemplo moral de companheirismo. Não é preciso ter dúvidas de que grande parte da sobrevivência da comunidade se deu por essa amizade que espantava até os regentes do poder. A generosidade e parceria eram fraternais e absolutas chegando a cativar quase qualquer um que observasse suas demonstrações de amizade. Em uma dada história, um pitagórico condenado à morte tinha de, antes de sua punição, resolver seus assuntos pendentes antes de morrer. Dado que ele não podia ficar livre antes de ser punido chamou outro pitagórico para ficar em seu lugar como garantia de que iria voltar ao fim do dia:


“Um dia Dioniso quis colocá-los à prova, pois alguns asseguravam que se os tivesse preso e aterrorizado, não teriam permanecido fiéis uns aos outros. Ele então agiu da seguinte forma: Fintias foi preso e conduzido na frente do tirano, que o acusou de conspiração contra ele, acrescentando que o fato já havia sido comprovado e que portanto o condenaria à pena capital. Fintias respondeu: “se assim decidiste, me seja ao menos concedido o restante deste dia para acertar meus negócios e aquele de Damon (era de fato companheiro e sócio dele e enquanto mais idoso, havia tomado conta de seus negócios). Fíntias, portanto pedia para ser deixado ir, e oferecia Damon como fiador [para ficar no lugar dele]. Dioniso concordou e foi chamado Damon que, ao saber o que havia ocorrido, aceitou imediatamente de ser fiador de Fintias e ficou esperando este voltar. Dioniso, de sua parte, havia ficado impressionado com o ocorrido, enquanto aqueles que haviam inicialmente proposto a prova zombavam de Damon, dizendo que seria ali abandonado. Mas ao pôr-do-sol, Fintias chegou, pronto para morrer. E todos ficaram maravilhados; Dioniso, de sua parte, abraçou afetuosamente os dois e pediu para ser acolhido como terceiro na philía deles.” (Porfírio, VP, 60-61).

A philía Pitagórica transparecia o que de mais nobre existia na comunidade. O exaltado senso de justiça e de ajuda mútua conservavam a saúde da comunidade fazendo atrair muitos que se maravilhavam com suas demonstrações públicas de admirável moralidade. Não importava o gênero do membro da comunidade e nem o grau de iniciação. Uma vez pertencente da tradição o pitagórico colocava seus esforços e bens para toda à comunidade.

O comunismo pitagórico implicava em uma verdadeira confiança e devoção à comunidade. Ao iniciado era necessário, antes de mais nada, colocar em comum seus bens: “Ora, quando os jovens vinham até ele e queriam viver com ele, não lhes permitia fazê-lo, mas respondia que era necessário que colocassem em comum seus bens” (Schol. In Phaedr. 279c = Timeu FGrHist 566 F 13). Essa determinação garantia a segurança financeira do pitagórico que, por um acaso, poderia se encontrar em dificuldades. Além de fortalecer ainda mais a amizade, esse contrato colaborava com a consolidação da comunidade e reafirmava o senso de justiça dentro da philía. É importante lembrar que estes acordos internos eram plenamente justificados pela filosofia da tradição que ensinava valores correspondentes em prática: a generosidade, a fraternidade, a solidariedade, e etc. As demonstrações práticas desta filosofia não param por aí. Em uma história surpreendente, Jâmblico relata o caso de um pitagórico que se encontrava em grandes dificuldades financeiras e de saúde e que recorreu à solidariedade da comunidade mesmo estando longe e sem contato:

“Incluso dicen que un pitagórico, que hacía um larga y solitário camino, se hospedo em una posada, y a causa del cansancio y algún outro motivo diversa índole, contrajo uma enfermedad larga y grave, de manera que se le acabaron los recursos. Pero el posadero, ya por compasíon ya por simpatia hacia la persona se lo proporciono todo uns escatimar servicio alguno ni gasto. Pero cuando se agravo la enfermedad, convencido de que se estaba muriendo, grabó un signo em uma tablilla y le encomendó al posadero, que se le pasaba algo, colgara ta tabla junto al camino y observara si alguno de los que pasaban reconocía el signo. Pues, dijo, esa persona le pagaría los gastos que hiciera com el y recibiría su agradecimiento en su lugar. El posadero después de su muerte se hizo cargo del cadáver y le dio sepultura, sin tener la esperanza, no obstante, de poder cobrar los gastos; todavía menos, de obtener algún beneficio por parte de alguno que reconociera la tablilla. Sin embargo, asombrado por las instrucciones, trató de colocar com regularidad la tablilla a la vista de todos. Y mucho después, un pitagórico que pasaba se detuvo y preguntó por el que había hecho el signo. Investigó lo que había sucedido y pagó al posadero mucho más dinero del que había gastado.” (Jâmblico, VP, 237-238).

A moral pitagórica, como já foi visto, nos permite suspeitar de muitas semelhanças com religiões posteriores. A filosofia platônica é um ótimo exemplo de uma profunda e importante influência que sofreu da filosofia pitagórica. Quase todas as outras doutrinas se referem a Pitágoras com enorme respeito e admiração deixando fluir o que de melhor a tradição pitagórica deixou. A matemática, com toda a certeza, foi a que ficou mais famosa, contudo seria ingenuidade achar que a moral pitagórica não foi absorvida por inúmeras outras doutrinas. As semelhanças – quando não é uma clara e estranha oposição – estão evidentes para o estudante atento.

Os neoplatônicos, verdadeiros propagandistas do pitagorismo, provavelmente fizeram a tradição chegar às concepções do cristianismo que estava nascendo – em grande confronto com os neoplatônicos – no império romano. Mesmo nas passagens da bíblia é possível identificar a filosofia pitagórica em suas minúcias. O que, portanto, é possível concluir: a história da filosofia que conhecemos e mesmo nossas condutas morais atuais seriam, se a comunidade pitagórica não tivesse existido, bem distintas das que temos consciência na presente percepção da história.


- Benny

Comentários

Amêndoa disse…
"Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...

Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...

Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...

Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais..."

(C. Veloso)
Amêndoa disse…
Essa música me pareceu uma síntese do seu escrito. Lógico que à minha interpretação, que nada mais é do que uma em um milhão. Estava tocando na rádio enquanto concluía a leitura. Quis compartilhar. Abração, Nilso réi!
- Benny. disse…
Nunca imaginava uma leitura deste tipo de perspectiva Amanda. Isso demonstra cada vez mais que o que importa é a força da interpretação e não metodologias de apreensão de linguagem.

Abraços Amêndoim!

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