O Único



Deixemos O Mestre falar um pouco, ainda que ele recomende não idealizá-lo:

O Estado deixa os indivíduos jogarem livremente, mas não se meterem a sério nas coisas e o esquecerem. O homem não pode ter relações espontâneas com os outros homens sem "vigilância e mediação a partir de cima". Não posso fazer tudo o que sou capaz de fazer, mas apenas aquilo que o Estado permite; não posso valorizar minhas idéias, nem meu trabalho, nada que seja meu.

O Estado tem sempre uma única finalidade: limitar o indivíduo, refreá-lo, subordiná-lo, fazer dele súdito de uma idéia geral; só dura enquanto o indivíduo não for tudo em tudo, e é apenas a mais marcada expressão da limitação do meu eu, da minha limitação e da minha escravidão. Nunca um Estado tem como objetivo permitir as atividades livres de cada indivíduo, mas sempre aquelas que estão ligadas aos interesses do Estado. E também nada de comum pode nascer dele, do mesmo modo que um tecido não pode ser visto como o trabalho comum de todas as partes de uma máquina; trata-se antes do trabalho de toda a máquina como uma unidade, um trabalho mecânico. A forma como as coisas acontecem com a máquina do Estado é semelhante; é ela que faz mover as engrenagens de cada um dos espíritos em particular, mas nenhum deles pode seguir seu próprio impulso. O Estado procura travar toda a atividade livre através de sua censura, sua vigilância, sua polícia, e toma isso como seu dever, que é na verdade um dever que lhe é ditado por seu instinto de conservação. O Estado quer fazer alguma coisa dos homens, e é por isso que nele só vivem homens fabricados; todo aquele que quiser ser ele próprio é seu inimigo, e não vale nada. Este "não vale nada" significa que o Estado não encontra utilidade para ele, não lhe confia nenhuma posição, nenhum posto, nenhum negócio etc.
- Max Stirner, O Único e a Sua Propriedade, página 293; tradução da edição francesa por João Barrento.

- Benny




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