Anatomia Funcional Básica do Cérebro


Os avanços tecnológicos para o estudo do cérebro no final do último século fez a década de 90, nos EUA, ser declarada como a “década do cérebro” (RUSSO e PONCIANO, 2002). Decorrentes desta mobilização, que contou, inclusive, com a elaboração de uma lei, surgiram tecnologias chaves para o aprimoramento da neurociência. Avanços tecnológicos tais como a ressonância magnética, tomografia computadorizada, tomografia por emissão de pósitrons (PET) e tomografia por emissão de fótons (SPECT) tornaram possível observar o cérebro, com certa clareza, por meio de imagens, em intenso funcionamento (RUSSO e PONCIANO, 2002), ainda que estas imagens não correspondam a uma cópia fiel dos processos cerebrais.
            
O sistema nervoso central (SNC) é formado basicamente por duas porções contínuas entre si, são elas o encéfalo e a medula espinhal (LENT, 2001). Sendo que o encéfalo, por sua vez, ainda é divido em outras duas porções: anterior (ou prosencéfalo) e posterior (ou rombencéfalo) (KANDEL et al., 2003). Assim, o encéfalo em sua porção anterior comporta o cérebro (dividido em telencéfalo e diencéfalo) e, em sua porção posterior, encontrada mais abaixo, comporta o cerebelo e tronco encefálico (LENT, 2001). O tronco encefálico, contudo, ainda é divido em três regiões: mesencéfalo, ponte e bulbo (LENT, 2001). Falando precisamente e em miúdos, o SNC é dividido, portanto, em medula espinhal, medula oblonga, ponte, cerebelo, mesencéfalo, diencéfalo e hemisfério cerebral (KANDEL et al., 2003).
            
Por sua vez, a porção cerebral do encéfalo, da qual iremos nos ater majoritariamente, é dividida em quatro partes principais caracterizadas pelas suas posições anatômicas e funcionalidades distintas, são elas: o lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e lobo temporal (KANDEL et al., 2003).
            
O lobo frontal está associado, dentre outras funções, ao planejamento de ações futuras e controle do movimento. Já o lobo parietal, localizado entre o lobo frontal e occipital, responde pela sensação somática, formação da imagem do corpo e a relação da imagem do corpo com o espaço extra pessoal. O lobo occipital, localizado na parte posterior, está principalmente envolvido com a visão. Por fim, o lobo temporal, localizado nas duas porções laterais do cérebro, é responsável, sobretudo, pela audição. Ainda no lobo temporal, estão localizadas duas porções que são alvos frequentes de estudo, são elas a amígdala e o hipocampo, com funções relacionadas à aprendizagem, memória e emoção (KANDEL et al., 2003), assuntos que serão abordados no presente trabalho.[1]
         
Cada lobo apresenta giros e fissuras - ou sulcos - (KANDEL et al., 2003) onde os giros representam a parte projetada ou avantajada, enquanto que as fissuras representam os traços característicos do cérebro que separam um giro do outro, conferindo um aspecto “enrugado” (LENT, 2001). Um giro pode ser responsável por uma função enquanto que um segundo pode estar relacionado à outra função, tudo em um mesmo lobo cerebral. Giros e sulcos apresentam, portanto, um meio conveniente de separar anatomicamente funções cerebrais mais específicas.

A porção mais superficial dos lobos, ou do cérebro, onde se apresentam os giros e sulcos, e que também se caracteriza por uma aparência cinzenta - e por isso também é chamado de massa cinzenta do cérebro -, denomina-se córtex cerebral (LENT, 2001). Nesta porção estão localizadas as principais funções cognitivas (KANDEL et al., 2003), sendo uma área, portanto, de constantes estudos na neurociência.
            
Como se vê, há fortes evidências para se pensar o sistema nervoso como um mosaico de regiões especializadas (LENT, 2001), ainda que estas regiões − especializadas − estejam em intensa interação. Logo, para o estudo da neurociência se parte de um pressuposto fundamental: o cérebro é um conjunto interconectado de porções especializadas.

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[1] Um quinto lobo, denominado lobo insular, pode ser descrito por alguns autores. A localização deste lobo estaria na parte interna do cérebro, isto é, entre os quatro lobos (frontal, parietal, temporal e occipital). Este quinto lobo serviria para denominar a parte mais profunda do cérebro.

- Benny

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Bibliografia

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Princípios da neurociência. 4a Edição ed. Barueri, São Paulo.: Manole, 2003.

LENT, R. Cem bilhões de neurôneos: conceitos fundamentais da neurociência. São Paulo: Atheneu, 2001. 

RUSSO, J. A.; PONCIANO, E. L. T. O sujeito da neurociência: da naturalização do homem ao re-encantamento da natureza. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 12, n. 2, p. 345–373, dez. 2002.


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