Biologia Celular Básica do Neurônio
Os neurônios são conhecidos pela sua vasta diversidade morfológica. É o tipo celular mais variado em nosso organismo. Dentre as diversas localidades do corpo onde estão espalhados, se observa mais de 50 tipos diferentes descritos (KANDEL, 2003). Ainda assim, se sabe que todos eles apresentam a mesma base estrutural. Além disso, é importante a informação de que cada tipo de neurônio expressa uma combinação de moléculas gerais e específicas, de acordo com a coleção de genes expressos em cada um destes tipos variados de células (KANDEL, 2003).
A constituição do neurônio é formada, fundamentalmente, pelo corpo celular, os dendritos, os axônios e os terminais sinápticos (KANDEL, 2003). Por vezes, o corpo celular também pode ser chamado de “soma”, local onde se concentram as principais organelas intracelulares (LENT, 2001). A porção somática da maioria dos neurônios, onde se observa o núcleo e grande parte das organelas, representa, contudo, menos que um décimo do volume total da célula. Os dendritos e axônios, que se projetam do corpo celular (ou soma) representam o restante desta proporção (KANDEL, 2003). Deve-se pensar o neurônio, portanto, como a unidade de uma ampla rede nervosa que necessita, mais que apenas um corpo celular, de processos que permitem intensa ligação entre eles. Logo, os dendritos ¬(ou processos) que se projetam do corpo celular costumam se apresentar numerosos, se ramificando várias vezes, a fim de estabelecer uma estrutura especial de recepção sináptica para outros neurônios (KANDEL, 2003).
Do corpo celular (soma) geralmente se origina apenas um axônio (KANDEL, 2003), mas esse número pode variar, evidenciando a ampla dinâmica de interconexões do cérebro. Sendo assim, em geral, concebemos a imagem de um neurônio como sendo uma “cabeça” (que seria o corpo celular) impregnada de processos (dendritos) especializados na recepção sináptica, e um longo “rabo” (o axônio) desembocando, por fim, em um terminal sináptico (KANDEL, 2003).
Os processos que se projetam do corpo celular do neurônio formam, por assim dizer, uma densa “árvore”, com numerosas projeções e ramificações, constituindo, por fim, um vasto receptor sináptico. Denomina-se, portanto, campo dendrítico a árvore que os processos, ou dendritos, do corpo celular formam (LENT, 2001). A árvore dendrítica de um neurônio do cerebelo pode alcançar um número de ramificações significativo, chegando a manter contato com 200 mil fibras aferentes (LENT, 2001).
O axônio de um neurônio pode possuir um comprimento considerável, propagando impulsos elétricos em distâncias significativas (KANDEL, 2003). Seus terminais sinápticos, localizados ao fim do axônio, fazem contato não só com neurônios vizinhos, mas com órgãos de outras partes do corpo, tal como o músculo, transmitindo informação motora.
Os neurônios ainda apresentam uma complexa e ampla rede interna de polímeros que constitui seu citoesqueleto. No caso especial dos neurônios, esta rede possui uma complexidade importante, já que é ela a responsável por ancorar proteínas motoras que transportam vesículas - contendo neurotransmissores - ao longo da célula e, além disso, é quem permite a neuroplasticidade do sistema nervoso, possibilitando que um neurônio crie novos processos, aumentando ou diminuindo, assim, a intensidade de ligação entre um neurônio e outro (LENT, 2001). Diga-se de passagem, a todo o momento a célula neuronal tem de dar conta de um novo mecanismo molecular para eventos sinápticos, tais como a produção e transporte de novos receptores de membrana para a atividade sináptica e de substratos para ação enzimática em cascatas, fazendo do citoesqueleto um verdadeiro sistema de ruas e avenidas dentro da célula.
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[1]
O termo aferente, citado no texto,
diz respeito a uma fibra nervosa que traz
informação ou impulso elétrico. Já a fibra que leva informação é dita como eferente.
- Benny
Referências Bibliográficas
KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Princípios
da neurociência. 4a Edição ed. Barueri, São Paulo.: Manole,
2003.
LENT, R. Cem bilhões de neurôneos: conceitos
fundamentais da neurociência. São Paulo: Atheneu, 2001.
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