Maconha: Abordagem Comportamental x Orgânica.
*Alegando desde já meu humilde e inicial conhecimento acadêmico nesta area, gostaria de fazer uma contribuição no debate que vem crescendo desde 2012. Conhecimentos aprofundados sobre o assunto constam em artigos de diversas revistas neurocientíficas das quais não estou citando inicialmente, mas pretendo adicioná-las futuramente. A motivação do texto a seguir deriva da polêmica revista Scientific American Brasil deste mês de Setembro de 2014, na qual, já na capa, consta a afirmação de demência precoce no uso da maconha. Tudo, ao que parece, se trata de uma resposta às pesquisas lideradas por Carl Hart.
Vamos lá:
Desde que os estudos de Carl Hart se tornaram famosos, uma determinada "militância" da vertente behaviorista das investigações neurocientíficas, isto é, a neurociência comportamental (que evitam investigar as instâncias cognitivas em seu processos orgânicos) voltaram a atuar com força, sobretudo em se tratando do consumo da maconha. Esta vertente defende que não se pode tirar conclusões apodícticas de estudos a partir de dados bioquímicos, de imagens cerebrais, estudos celulares e etc. Em suma, esta vertente diz: devemos observar o comportamento da pessoa, é neste âmbito onde podemos detectar diferenças legítimas e elaborar conclusões - disto se segue comparativos de prejuízos sociais, familiares e etc. Ora, é óbvio que, em se tratando de comportamento, não iremos observar mudanças drásticas, sobretudo a curto prazo, no uso da maconha. Em geral a gente fuma um e tudo volta ao normal depois e nossas relações sociais permanecem saudáveis, seja uso crônico ou não.
Contudo, sou obrigado a dizer logo de uma vez: essa vertente neurocientífica é uma das menos sucedidas no que tange a objetividade de explicações causais de análise. As observações desta abordagem se resumem a observação externa, algo extremamente subjetivo e caros de vieses. Enquanto os estudos bioquímicos da vertente orgânica descrevem processos de armazenamento da memória em seus pormenores moleculares, a abordagem comportamental vive de especulações, inferências teóricas "frouxas" e debates de vieses e etc. Em contraparte, o que a vertente materialista, ou cognitiva, da neurociência diz é claro: maconha DEGENERA regiões cognitivas do cérebro, tanto de processos cognitivos intelectuais (matemática, lógica e etc) quanto de aprendizagem e memória a longo prazo. Em outras palavras, com o passar do tempo do uso você não vai virar um psicopata, um antisocial, nem perder a namorada como costuma ocorrer, por exemplo, com o uso do alcool e etc (pra falar tudo isso estou desconsiderando o que na literatura é chamado de "psicose canábica"); mas, em se tratando de efeitos cognitivos, você vai de fato ficando progressivamente demente, em níveis significativamente rápidos quando comparado com grupos controles. Os estudos mais recentes, que datam de 2011 até agora, tiveram resultados preocupantes respeitante a isso.
A questão é: o uso generalizado da maconha colhe suas primeiras evidências comportamentais só agora. Até 20 anos atrás encontrar um grupo de teste com uso crônico (fuma toda semana) composto por 30 pessoas era dificílimo, principalmente por questões morais, mas hoje vai começando a se tornar fácil. Logo, até mesmo a abordagem comportamental em um futuro próximo poderá revelar resultados que corroborem com a investigação orgânica, fisioanatômica, molecular e etc. Seja como for, na abordagem "in vivo" (e não comportamental), você já está pagando caro pelo uso.
Por fim, nada do que eu falei possui algum pressuposto legítimo de criminalização. O ato de proibir o uso é muito mais uma medida de policiamento moral que de proteção a um determinado conceito normativo essencial de saúde. Resta-nos ainda, portanto, o debate filosófico sobre a normatividade relacionada a psicotrópicos. Por isso sou absolutamente a favor da legalização (não só dela, mas da cocaína também). Fumemos, se assim desejarmos, mas saibamos qual abordagem científica é a melhor para se orientar.
- Benny
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