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O que é Pampsiquismo?

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Ao procurar bibliografia confiável em língua portuguesa do assunto, notei que temos pouca coisa disponível. Quando muito, temos capítulos de livros de filosofia da mente traduzidos que mencionam o pampsiquismo sem, todavia, tomá-lo como problema alvo. A minha primeira referência em língua portuguesa do assunto, por exemplo, foram os trechos traduzidos onde Thomas Nagel defende a teoria do duplo-aspecto  —  que pressupõe o pampsiquismo  —  em Visão a Partir de Lugar Nenhum . Assim sendo, decidi, por conta própria, em escrita livre, elucidar em nossa língua essa doutrina metafísica que, em teoria da mente, vem sendo uma tese cada vez mais discutida. Devemos, já de início, buscar distinguir o pampsiquismo do animismo . O animismo é a tese de que coisas tomadas habitualmente como desprovidas de vida psíquica podem possuir intencionalidade semelhante a nossa. Em uma de suas expressões, talvez a mais extremada, o animismo advoga mais que intencionalidade para o que encontramos na

Filosofia hardcore 2

2. A maioria dos psiquiátricas acreditam em entidades parapsíquicas Comecemos sendo dualistas quanto ao problema mente-corpo: mente ou consciência e corpo ou matéria são fundamentalmente distintos. "Fundamentalmente" aqui significa radicalmente distintos. Em Nunes (2018) colocou-se logo de uma vez cada um (consciência e matéria) em um cosmo (universo) diferente, um dualismo cósmico. Pois bem, a visão concorrente da nossa proposta será o materialismo, segundo o qual tudo o que existe pertence à "impiedosa realidade material-energética" (GABRIEL, 2018, p. 12) . Essa visão, defenderemos, é equivocada. A nossa vida abrange a dimensão da consciência que ultrapassa o que entendemos, em geral, por matéria. Quando alguém vivencia uma dor, o substrato nervoso não encerra a cadeia de fenômenos: temos também a experiência subjetiva da dor. Experiências, por mais que dependam da atividade cerebral, uma vez que tenham sido produzidas, passam a conter realidade própria . Por iss

Filosofia Hardcore 1

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    1. Introdução: metafísica, realidade e ontologia Uma das formas de estudar filosofia é abordando os seus problemas diretamente, mas diretamente mesmo, que é diferente de ir em busca de seus autores ou de uma terminologia que é quase sempre carregada e tediosa. Por exemplo, alguma coisa fora do comum, uma ideia, nos acomete e lá estamos concentrados nelas. As coisas, aliás, nem precisam deixar de fazer sentido para que comecemos a pensar mais profundamente nelas: Por que as verdades matemáticas valem em todo caso? Não haveria um mundo onde 2 + 2 seria igual a 5? Assim, mesmo coisas inegáveis parecem nos deixar perplexos se tivermos paciência para pensar nelas. Vamos então propor uma filosofia de alvo direto ou, como sugere o nome do canal, uma filosofia hardcore. Essa filosofia terá como principal característica a sua incisividade: ela vai lá e pow! Qual é o problema? Feito isso, jogaremos as cartas na mesa, os pressupostos, as verdades mais ou menos consensuais ou mesmo as ideias d

Eticismo metafísico: uma fraqueza dos movimentos emancipatórios.

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Por Benilson Nunes (Benny) O eticismo metafísico não é uma doutrina formada, isto é, no sentido de haver um sistema de pensamento desenvolvido. É muito mais uma tendência inconsciente que determina o modo de pensar de movimentos políticos. No caso, trata-se de uma tendência no modo de ver e interpretar o mundo. Ele está, sobretudo, presente na crítica que se elenca contra os diferentes modos de dominação que persistem em nossa história. Além disso, quem está em sua esteira não percebe que o está. Ele é invisível dentro dos raciocínios emancipatórios e compromete a análise dos fenômenos sociais, bem como os encaminhamentos de luta. Compromete-se com o eticismo metafísico quem vê o mundo como ele devia ser no lugar de ver o que ele simplesmente é. Por isso, diz-se "eticismo" metafísico: uma ética do dever (mais especificamente, do "dever ser") é colocada no lugar do real. O real, com isso, não é mais os fatos ou a história que constitui os fatos, mas o que s

Bergson e a temporalidade psíquica

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Por Benilson Nunes Bergson, em seus primeiros trabalhos, particularmente no Ensaio sobre os dados imediatos da consciência , reservou a duração, e o seu caráter movente e unificado, apenas à consciência. Assim, ele distinguiu o aspecto dinâmico e fluido da experiência do aspecto estático do reino físico. Foi apenas posteriormente, em Matéria e memória , que essa distinção de tipo dualista foi desfeita e Bergson passou a adotar um monismo — mais especificamente, um monismo de tipo pampsiquista. Daí em diante, “duração” passou a designar algo que permeia todo o universo: a dimensão durativa da realidade seria, por assim dizer, o “bloco de construção”, bem como a força motora, de toda a realidade. Logo, o referente de “duração” não diria mais respeito apenas à consciência, mas também diria respeito, fundamentalmente, a tudo o que existe. Mas o que é a duração ou a dimensão durativa da realidade? É aquilo que, segundo Bergson, melhor caracteriza a experiência consciente: a sua

Barry Smith: o encontro de mentes na comunicação (ou o otimismo de uma experiência intersubjetiva)

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Por Benilson Nunes Há muito, em filosofia da linguagem, assumimos que o entendimento da fala se dá pela decodificação, por parte do ouvinte, dos sons produzidos por um falante. Há um momento sintático, ou auditivo, importante da comunicação para se tornar possível a compreensão semântica. Escuta-se sons e sentenças organizadas para entendê-las. Nesse caso, escutamos não uma pessoa, mas um som ou frase. Este som ou frase, certamente, deve estar articulado dentro de uma língua e, assim, naturalmente, pressupomos. Logo, há o entendimento de que a comunicação se dá entre falas apropriadamente organizadas, e não, essencialmente, entre sujeitos. Isso significa, em última instância, que não são pessoas que comunicam, mas sim discursos.  Esse raciocínio parece razoável se considerarmos que há “falas” que não são emitidas por algo que denominaríamos como pessoa. Um computador, por exemplo, e assumindo que computadores não são pessoas, poderia emitir sons articulados dentro de uma

O que é Niilismo? Uma definição brevemente a fundo.

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Por Benilson Nunes As principais enciclopédias online de filosofia, tais como a Stanford , a Internet Encyclopedia of Philosophy  e a Routledge , oferecem visões, ao nosso ver, excessivamente contextuais, ou, por isso mesmo, pouco gerais ― o que não é, em todo caso, ruim. Talvez isso ocorra em função da própria autoria do artigo que acompanha os verbetes não ser, em si, niilista, necessitando, assim, de uma explicação tendo como referência exemplos históricos específicos. Dito de outro modo, não se tenta oferecer  a perspectiva niilista, mas apenas perspectiva s em seus recortes autorais ou disciplinares. Decerto, essa é uma atitude parcimoniosa positiva, mas que deixa de oferecer uma visão que possa ser compreendida independentemente do conhecimento que se tenha da história da filosofia. É talvez verdade que definições gerais serão, de todo modo, imprecisas, dado que o niilismo, a despeito de não aparentar, não é uma doutrina de fácil compreensão. Mesmo as enciclopédias o

A teoria do duplo-aspecto de Thomas Nagel

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Por Benilson Nunes (Benny) 1. Introdução Para compreender a teoria de Nagel a respeito da consciência, devemos, de antemão, explicitar as suas pretensões metafísicas mais fundamentais. Trata-se do que o autor passou a nomear, em 1986, de “teoria do aspecto dual” (NAGEL, 2004, p. 43) ou, como poderíamos dizer em função de seu monismo, monismo de duplo-aspecto . Essa dualidade de aspectos, segundo Nagel, dá-se em uma terceira coisa [1] que abriga, essencialmente e simultaneamente , o mental [2] e o físico. Dizendo de outro modo, o monismo de duplo-aspecto nageliano é uma teoria da dupla-essencialidade — mental e física — a respeito de um substrato mais fundamental da realidade. Assim, temos que a realidade possui, ela mesma, uma escala última que seria, propriamente, psicofísica .              Essa tese da essencialidade psicofísica da realidade advogada por Nagel surge com a pretensão de resolver o problema que ficou intitulado, a partir do artigo Materialism and qual