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Mostrando postagens de abril, 2009

O Absurdo

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Tinha a faca, bem afiada e pouca reluzente. Seu fraco brilho não era sedutor o suficiente. Mas, tinha a certeza de que sua lâmina era o suficiente para dilacerar minha pele pouco a pouco. Começaria - no primeiro movimento de corte - a remover o curto e frágil tecido epitelial para depois alcançar o conjuntivo onde a invaginação deixaria de ser branca e passasse a ser vermelha. Pensava em como seria o jorro de sangue ao atingir uma artéria. No momento, o coração acelerado daria impulso para espirrar sangue ao longe. Provavelmente em meio a dor e desespero acabasse cortando um nervo também, o que me atenuaria a dor e agonia. Queria, ridículamente, que alguém tivesse pena de mim. Como se a atenção de outro humano curasse toda a minha angústia. Nesta hora podia enxergar a pequenês de todo e qualquer medíocre e frágil ser humano. Passei então a rir, enquanto chorava, ao perceber o quanto minto pra mim mesmo sacralizando amizade, o amor, as pessoas. Esta era a hora de uma força maior dar um

A Arte da Angústia

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Beber da própria angústia É regurgitar as falácias Aquelas que assombram Com o vazio apaixonante De sonhos da infância. Sei que a morte não é o fim Pois nascer nunca foi o início Também sei que as verdades cruas - Aquelas da angústia É o nada, a única verdade. Mas sei de uma fórmula Que insiste em parecer provisória Ela às vezes é distorcida Mas quando clara Sacraliza a vontade de viver. Vide a solidão! Que dilacera sinuosamente A ânsia de esperança Acredito sim Que do outro lado me espera O cotidiano das contradições que canta A música da felicidade compulsória abdicada - A eterna angústia. Vide a solidão! Que dilacera sinuosamente, A ânsia de esperança. - Crowley

O Mendigo e o Ladrão

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Ao largo da alegre avenida de vão e vêm os transeuntes, homens e mulheres, perfumados, elegantes, insultantes. Junto a um muro está o mendigo, a mão pedinte adiantada, nos lábios trêmulos a súplica servil. - Uma esmola, pelo amor de Deus! De vez em quando cai uma moeda na mão do pedinte, que este mete rapidamente no bolso emitindo louvores e reconhecimentos degradantes. O ladrão passa, e não pode evitar o olhar de desprezo sobre o mendigo. O pedinte se indigna, porque também a indignação tem pudor, e refuta irritado: - Não tem vergonha, vadio, de ser ver frente a frente a um homem honrado como eu? Eu respeito a lei: não cometo o crime de meter a mão no bolso alheio. Meus passos são firmes, como os de um bom cidadão que não tem o costume de caminhar nas pontas dos pés, no silência da noite, por habitações alheias. Posso apresentar o rosto em todas as partes; não recuso o olhar de um policial; o rico me vê com benevolência e, ao largar uma moeda em meu chapéu, bate em meu ombro dizendo-m