A Existência de Deus (Parte 1)

"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?" - Douglas Adams (1952 - 2001).


Este é o primeiro aforismo do livro Deus, um Delírio do Cientista britânico Richard Dawkins. Para quem não conhece o livro, ele está sendo motivo de polêmica no território norte-americano e em outras partes da Europa. Não só Dawkins, mas muitos outros ateus em todo o mundo têm se posicionado não mais pacificamente frente às religiões. O ateísmo no mundo a cada dia mais assume um caráter de movimento ativista para a preocupação das instituições religiosas.


Como já se sabe, a discussão sobre a existência do sobrenatural resultou em muitos conflitos no decorrer da história: enforcamentos, perseguições, guerras e genocídios. Quando o conflito não é entre ciência e religião é entre religião e religião. Neste caso - entre duas religiões - quase sempre aconteceu e acontece entre religiões semelhantes teistamente como o judaísmo e o cristianismo que, por divergências não grandes, a não ser um fundamentalismo de verdade específico, causou e causa escândalos mundiais.

Desde pequenos, seres humanos da sociedade são doutrinados pela moral, valores e crenças de sua família que é também doutrinada teológicamente pela cultura vigente que consequentemente é doutrinada pela classe dominante. Esta doutrinação é feita de tal maneira que muitas vezes se torna impossível a futura mudança de conceitos destas crianças. Muitos pensadores consideram esta doutrinação imposta - em um ser que ainda é imaturo de mais para julgar o que é coerente ou não para sua vida - um crime hediondo. Como eu, e muitos outros que estão lendo este texto agora, foram batizados na religião cristã contra a vontade. Sim, contra a vontade. Afinal, nem sabíamos falar, estávamos totalmente indefesos no colo de nossos pais que nos levaram até a igreja e nos declarou cristãos. E, após este feito, durante muitos anos de nossas vidas, fomos educados e orientados a pensar de acordo com as regras cristãs em virtude da doutrinação antecessora de nossos pais.

Quinze anos vivendo e pensando de acordo com o cristianismo, quinze anos acreditando que Deus existe, quinze anos protegendo a bíblia. Ora, e, de repente, resolvemos questionar tudo isto. Considerem estes quinze anos apenas como mero exemplo quantitativo; como é acreditar fielmente em algo durante 15 anos e, de repente, duvidar? A maioria já duvidou várias vezes durante toda a sua vida, mas esta dúvida durou apenas alguns minutos. Afinal, duvidar da realidade que Deus nos diz é um pecado grave. Logo, muitas pessoas duvidam, mas se lembram na mesma hora que não podem duvidar - "isto é contra as leis de Cristo". A fé é incontestável, contestá-la é não ter fé. Então, a maioria das pessoas não irá levar esta dúvida à frente. Mas quem nunca se perguntou: "E se Deus não existir?". Se você levar a frente esta indagação e for cético, não haverá outra escapatória, você entrará em descrença. E é assim que muitos se tornam ateus, uns levam mais tempo e outros menos. Mas, sempre quando levado à frente a dúvida com busca de conhecimento empírico nós entramos em descrença e, também, para enlouquecimento de alguns, em uma sinistra e absurda crise existencial.

Jill Mytton, citada no livro: Deus, um Delírio de Richard Dawkins, diz que o processo de saída da crença é extraordinariamente difícil. "Ah, você está deixando para trás toda uma rede social, todo um sistema em que você praticamente cresceu, está deixando para trás um sistema de crença que manteve por anos. Muitas vezes você abandona familiares e amigos. E, além de todo este exilamento, o que mais tortura com toda a certeza, é a dúvida: "Será que Deus realmente existe?". Imagine você mesmo(a) neste momento refletindo sobre isto. É nauseante não é mesmo? Não é preciso nem fazer isto agora, pois tenho certeza de que já o fez em algum momento da sua vida mesmo sendo crente. E agora suponha o medo deste questionamento se você for cristão: "O que Deus acharia deste questionamento?". Questionar a Deus, isto é uma coisa que não existe nas frases cristãs, é um pecado grave. Porém, haverá pessoas corajosas o suficiente para fazer este questionamento e o sustentar durante anos para investigação e, depois disto, concluirão a existência ou não do divino.

Com este raciocínio é possível concluir que Deus poderá existir para alguém apenas sob fé, e apenas fé, ausente de qualquer tipo de indagação. O mínimo questionamento pode levar ao agnosticismo, e uma problematização pode levar ao ateísmo. É por este motivo que duvidar de Deus é colocado no pedestal dos piores pecados conservados pelo sacerdócio. Então, a base do crente é a fé em primeiro lugar, antes mesmo da razão que justifica a existência de nossa massa encefálica. Fé, fé, fé, tenhamos fé para acreditar em Deus ou tenhamos nossos cérebros? Pessoalmente acredito que - se Deus realmente existir - Deus conhece nosso sistema nervoso de cima-a-baixo, ele mesmo criou! E pra que tantos neurônios e variações de sinapses nervosas se ele queria apenas fé? Se Deus é Deus mesmo ele irá recompensar aqueles que duvidaram de sua existência e enfrentaram a descrença. Talvez tudo faz parte de um teste, uma conspiração, ele procura pessoas capazes de confrontá-lo. Ou, talvez, simplesmente, ele não exista.

- Crowley.

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*** Esta é apenas a primeira parte de muitas outras que serão postadas abordando o assunto da existência de Deus. Acompanhem!

Comentários

Angel disse…
Apesar de ainda não ter chegado ao seu estágio(ateu), já me considero uma deísta...então sei bem do que está falando. Imaginar que as pessoas podem ser como marionetes num show me incomoda. Não acreditar em algo é um tanto complexo, ainda mais nós que fomos criados com forte influência religiosa. Por isso minhas conclusões chegam quase perto das suas, concordo com muitas coisas que disse, principalmente quando disse que se Deus nos deu neurônios foi extamente para pensar e formar nossas bases e valores diante deste assunto. No entanto, ainda acho necessário acreditar que algo maior exista, que possa me servir sempre de incentivo para alcançar de forma mais clara os princípios que até então formei.

Até que fim conseguimos ter o mínimo de ideais em comum, hein Sr Crowley...apesar de não me firmar num radicalismo como você.
;)~~
Bjon e tudo de bom pra ti.
Anônimo disse…
Um ateu sincero, não um garoto querendo ser diferente da maioria e posar de "malvado".
Apesar de não concordar com alguns pontos, você escreve muito bem.
****
"...haverá pessoas corajosas o suficiente para fazer este questionamento e o sustentar durante anos para investigação e, depois disto, concluirão a existência ou não do divino."

Você ja encontrou alguem que fez esses questionamentos e chegou a conclusão que Deus existe?
Caso não, tem um autor: Francis Collins. Ele foi diretor do projeto genoma. Escreveu um livro chamado "a linguagem de Deus". Nos primeiro capítulos do livro ele conta rapidamente como chegou a conclusão de que Deus existe. Como não é o tema central do livro, ele não se aprofunda muito nessa historia. Mas acho que vale a pena ler. Conhecimento é sempre bem vindo.
Raphael Monteiro disse…
Eu sou ateu e acredito que Deus existe. Não é qualquer ser humano que consegui viver sem ter resposta para as coisas estranhas que acontece ao nosso redor ou na nossa vida. Não é qualquer um que tenha força para perder um parente querido. Deus existe e precisa continua existindo para essas pessoas, pessoa essa que poderá chegar a um desespero infinito se não souber motivos porque tamanho “abusou aconteceu”, pessoas essas, tão fracas que simples respostas servem de consolo (“foi Deus que quis assim”).
Deus existe no momento em que um cristão consegue converter um marginal (uma merda isso acontecer, vai ser mais um cristão, pelo menos é menos um marginal). Deus segura muitas pessoas a não mete bala em outro cidadão. Quando me perguntaram se eu acredito na existência de Deus eu disse “sim, e foi o homem que criou”. Nunca escutei tanto risada saindo de um boca, deu vontade de pergunta, quanto do seu salário desse ano já foi para Deus?, mas para quer pergunta, Deus para esse fraco deu muita força. Concluindo, sou ateu, contudo não tento convencer a ninguém a ser, é um passo evolutivo e não de decisão.

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