A Dissimulação e o Círculo Social Decadente


Frequente é encontrar, mesmo quando já adultos, caricaturas facilmente percebíveis entre grupos de amigos. Imersos em um teatro de contradições e tagarelices, consolidam um círculo de apegos mútuos enjaulados por convenções inteligíveis para a lógica. São reflexos de tudo o que há de deprimente no mundo. Ainda assim querem respeito e consideração mesmo daqueles que inevitavelmente estão imensamente evoluidos na compreensão do Todo. Não será preciso dizer que essas pessoas costumam, com enorme prazer, guardar e gastar enorme parte de seu tempo com a vida dos outros. Com julgamentos milimétricos dos atos alheios, transformam hipócritamente, em questão de segundos, uma pessoa em um monstro malígno. Como se geneticamente cada um fosse destinado ao bem ou ao mau. A empatia é jogada em um buraco enterrado pela insinceridade consigo mesmos(as), enquanto que a verdade se encontra em algum lugar que nunca estiveram - foram absorvidos pelos seus próprios desejos confusos e futurísticos, projetados ao céu como espéctros, ou melhor, fantasmas.

Nos mais jovens, a dissimulação ganha um caráter "descolado". O desespero presente na busca de uma identidade reflete precisamente a preguiça e o medo para culminar em algo vazio, desprovido de coerência. Todo mundo quer ficar bem na fita: tenta ser diferente, mas no fundo é essencialmente a decadência - juventude medrosa do caralho. Quando se esforçam muito passam a comer capim, isto é, absorvem os vultos de um conhecimento fragmentário enquanto se alimentam de submissões. Enxergar a totalidade das coisas passa a ser temido, pois se, por acaso - ou não - se pegam em silêncio meditando, mesmo que sem querer, tratam logo de recuperar as imagens espectrais que engoliram durante o dia - conversas desnecessárias; nostalgia de uma antiga paixão; vontades mentirosas; ansiedades burocráticas e etc - caso não, se sentem mal, quando não se sentem "caretas" por simplesmente usarem seus já atrofiados neurôneos sufocados por fazerem questão de dormir pouco ou alienados e restingidos para a incompreensível necessidade de tirarem fotos de si mesmos o tempo todo.

Metade, quando não mais, da semana destes inglórios jovens é usada para intensificar e ampliar seu círculo social decadente. A amizade aqui é motivo de melodrama, fiscalização e competição: é excluido aquele que não consegue fascinar os outros de seu círculo. Fascinação aplicada pelo padrão de beleza, jeito de falar, atitudes infantis e capacidade de ser fotogênico. Os "feios", isto é, os que não tiveram sorte de nascerem belos ou se aproximarem do padrão de Justin Bieber, Johnny Depp, Ana Hickmann, Angelina Jolie ou mesmo de Axl Rose sofrem frequentemente de depressão - chegando recorrer à psiquiatras - por não terem atenção suficiente para cobrir o embrutecimento dos estudos ou da sobrevivência no mundo totalitário capitalista. Os que quando não muito "feios", mas que não são descolados, não têm o jeito de se comportar e falar "fascinantes", que não são populares, que não têm tatuagens, que não fazem a barba, que não se depilam ou que não são fotogênicos acabam sofrendo o mesmo pato. Eis aqui o sentido de vida destas criaturas nojentas, medrosas e preguiçosas: viver a cada dia, imersos em mentiras, como se nunca fossem morrer.

De final, não poderia deixar de citar uma mente fértil:

"A alegria e despreocupação da nossa juventude se deve, em parte, ao fato de estarmos subindo a montanha da vida e não vermos a morte que nos aguarda do outro lado." - A. Schopenhauer.¹

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¹ A Cura de Schopenhauer - Irvin D. Yalom


- Benny

Comentários

yuRi Gregório disse…
A verdade, é que essa geração é muito do imediato. Elas se acostumaram com tudo na hora, são impacientes e intransigentes. Querem uma aceitação social de determinado grupo a qual querem/precisam desesperadamente pertencer, e buscam essa espelhagem de certos "ícones que estão em evidência" como motivação, já que "a galerinha" pensa/gosta tbm.
yuRi Gregório disse…
A sim, esqueci de comentar uma abordagem interessantes que vc fez. Essa fiscalização da amizade, e desejo INSANO de querer ser o MELHOR dos amigos... Acaba sendo um pouco assustador, o desejo de posse e controle que neguinho quer/tem sobre os ditos "amigos". Mais parece que quer exibir como um prêmio, um troféu na estante, poder passear e todo mundo olhar e dizer "olha o MELHOR amigo dele", quer que todos saibam, e ai de quem tente tirar esse "troféu" de suas mãos.

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