Do Pampsiquismo das Idéias


 O péssimo, ou maravilhoso para alguns, hábito humano de fazer da sua criatura seu próprio carrasco. Ou ainda: em tudo deixar, "humildemente", a criação se voltar contra o criador. Isso é um fetiche. Não é a toa que existem tantos filmes de uma "rebelião das máquinas". Incrivelmente, gostamos até mesmo de imaginar a criação se tornando um monstro concreto - como se não bastasse tantos monstros abstratos ou sentimentos algozes.

É justamente isto que deixamos acontecer com nossas criações: a linguagem - e portanto os conceitos de humanidade -, o método, a religião, a tecnologia materializada, o próprio hábito (e portanto a inércia cotidiana e intelectual), o Estado, as relações interpessoais (principalmente amorosas), a vasta ética contemporânea (que tanto pesa na mochila do militante hoje) e por aí vai...

O que se vê em comum de tudo isso não escapa: adoramos sustentar uma causa (idéia, conceito, sentimento moral e etc) e sentimos um prazer quase sexual - se me permite por já ter falado em fetiches - em NÃO QUERER perceber quando, esta mesma causa, ganha "vida própria" e nos escraviza para a contínua manutenção e conservação DELA MESMA. Quanto a nós, permanecemos nos esquecendo, logo, do objetivo originário desta causa ou idéia, qual seja: NOS SERVIR, e não o contrário! Assim acontece depois de um longo exercício histórico de uma idéia ou sentimento criado: confudimos realidade e convenção abstratra. Esta última, então, passando a exercer aparência de solidez, inelutabilidade, "coisa em si". Logo, se diz em grande suspiro de sabedoria - ou medo: "isto é pelo bem do convívio social e deve se caracterizar como virtude" e etc.

Então que se saiba: idéias são instrumentos... não um fim em si mesmas - e muito menos deveriam ser senhoras de coisa alguma! Existe um abismo enorme entre exercer poder e o poder exercer você. Ou ainda, quem faz a promessa é o sujeito e não o contrário - admitindo a existência de um e falando de "uma criatura capaz de fazer promessas".

- Benny

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