O Jurista e seu Disfarce

 
No profissão reporter da Globo, a jurista de meio-mestrado e enfeitada com cristianismo três-quartos diz:

"...se todas as pessoas que estão em completo desamparo estatal e, portanto, em pobreza obrigatória, começarem a se apropriar do patrimônio alheio viveríamos em uma verdadeira anarquia."

A insistência histórica em falar de "anarquia" em sentido aterrorizantemente negativo é uma tendência fantasiosa de querer que as aparências continuem vigorando para exercício de uma ordem particular, arbitrária. Isto é, a tal "anarquia" é um fenômeno, desde sempre, iminente, pois representa nada menos que as consequências diretas das contradições sociais que o Iluminismo, paradoxalmente, visava erradicar. A lei, o policiamento, a moralidade fundada no "amor", em suma, o Estado - e a pobre coitada da jurista que acha que o Estado não é ela - serve, portanto, para silenciar impulsos perfeitamente naturais de exerção de poder concreto (falo de força física, agressão, homicídio) potencialmente "anárquicos", pois a livre-expressão é assegurada, essa resmungação que muito tem de inofensiva e que é, sem necessidade de espanto e sentimento de vitória, jurídicamente apreciada.

Não surpreendentemente, o que a jurista na verdade disse foi: "se eu te condenei à pobreza assim você deve permanecer, caso contrário haverá 'anarquia'".

O que se teima reconhecer é que em uma leitura lógica o crime não só é legítimo como é a única saida. Arbitrariedade, e isso é auto-evidente, é igual a ela mesma: arbitrariedade implica em arbitrariedade. Como a moralidade fundada no amor mesmo diz: "violência [enquanto arbitrariedade] só gera violência". Transpondo este ditado em uma outra modalidade de arbitrariedade com mesma valoração teríamos "desigualdade social só gera desigualdade social". A seguir, sem outra saida, com os mesmos valores de arbitrariedade, portanto mesmo valor lógico, teríamos: "desigualdade social só gera criminalidade". Este raciocínio nos guia para uma só conclusão: um indivíduo quando pratica atos julgados como crime nada menos faz que responder contra o véu das aparências, ou ainda: o crime é o resgate momentâneo da realidade negada. Naquele ato de terror para o Estado há muito de "objetivo", de verdade, de legítimo, de justiça, de fenômeno, por assim dizer, "científico", pois, em vez de ser um evento monstruoso, feio, horrendo e etc, é antes o espetáculo de uma realidade efetivamente experienciada e negada ao mesmo tempo.

A "homeostase" proporcionada pela boa jurista é, na verdade, uma homeostase de fachada, paliativa, uma máscara; usando novamente termos de biologia: uma homeostase forçada com anti-inflamatórios potentes contra um paciente mórbido. E os sintomas mascarados, que é a verdade objetiva e legítima portanto, não poderia ser outra coisa se não o crime, esta coisa que, de tão natural e necessário, legitima e heroiza o criminoso, este afirmador, guardião da realidade.

Se trata de distribuir morfina - ou flores, leis, amor, cristianismo... seja como quiser... - para mascarar a guerra: eis a profissão de arbitrariedade do bom jurista.

Em resposta, o Facção Central já tem dito: 

"É um milagre o carrefour não ser saqueado e as árvores do iberapuera não ter rico enforcado... [contudo] ...o ódio atravessou a fronteira da favela, pra decretar que paz é só em baixo da terra...Jesus já fez sua parte e furaram com prego sua mão, em tempo de guerra a Kalashnikov é a oração..."  (trechos das músicas Discurso ou Revolver e Espada no Dragão).

- Benny


Comentários

Anônimo disse…
Concordo Benny...
Eh por isso que larguei direito no 4 semestre...
Enquanto tivermos imbecis legislando, outros votando e validando essas leis que soh regulam nao transformam nada... vai tudo continaur essa merda...
Aqui na Australia da pra sentir essa babaquice legislatoria sendo usada pra ROUBAR a populacao... um tipo diferente de corrupcao que soh consegue enganar o ingles retardado mental que aqui acredita no sistema... pelo menos no Brasil agente sabe que a porra toda eh corrupta.

Grande Abraco (Alan, irmao da Natalia Pirinopolis)

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