A Natureza Humana diante do Anarquista


Hobbes, no Leviatã, sabia o que estava dizendo. O problema dele, contudo, foi tomar uma manifestação da natureza humana como a rainha de todas as outras - além de chamar de ruim o que foi felizmente gerado pela evolução humana. É neste momento que se toma partido com alguma postura conservadora: o conservador está preocupado com determinados aspectos (sob determinado ponto de vista) da natureza humana e suas possíveis repercussões. Porém, de tão preocupado com isso se esquece de todo o resto e, inclusive, se esquece da parte da natureza humana que não interessa à ele: para o liberal e conservador, por exemplo, o egoismo se resume em um único lado da moeda, com um único lado político e uma única interpretação. Daí Hobbes efetua o salto: ele já pressupõe contido no medo da morte o ímpeto de se organizar socialmente, o que não explica nada, mas sim obscurece o assunto.

Não foi por acaso que o ministro da educação na Alemanha da época teve de censurar "O Único" de Stirner. Afinal, pela primeira vez se viu encarar a tal "natureza humana" de frente, sem deixar escapar o que há de mais importante: até então, todos os aspectos mais importantes da natureza humana para falar de política foram ignorados, para não darem vazão para sistemas de pensamento tão "perigosos" como o de Stirner.

Em vez de ovelhas, somos lobos famintos [por ânsia de poder, conhecimento], não nego... Contudo, antes lobos, que são livres e podem caçar, que ovelhas que são presas fáceis e submissas por natureza - o homem ser o lobo do homem pode ser uma dádiva: entre lobos as cartas estão na mesa (daqui se deriva uma tal de "livre-concorrência de mercado", coisa de ovelhas). O "ruim" da natureza humana acaba de revelar, aqui, sua nova abordagem política. Temos sim muito de irreverência e insubordinação em nossos DNAs: o suficiente para dizermos que somos, lá no fundo, e de modo muito positivo, um tanto anarquistas...

- Benny


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